domingo, 20 de janeiro de 2008

Coitada


Estávamos no ano de 1888. A Princesa Isabel, ou Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Orléans e Bragança, ou "feia como a peste e estúpida como uma leguminosa", no auge de seus 31 anos de parca beleza e prestes a completar bodas de prata com o marido, o célebre fracassado Conde D'eu, que nunca se recuperou das críticas por suas decisões na Guerra do Paraguai e entrou numa depressão profunda que abalou suas estruturas e sua "firmeza" nos quesitos mais íntimos, estava subindo pelas paredes, ou numa expressão da época "beliscando azulejos", portugueses e caríssimos, claro.
A Princesa Isabel, cheia de fogo no rabo (coberto por inúmeras anáguas e ferros para disfarçar aos olhos plebeus), resolve então se aliar aos liberais, certa de que entre eles encontraria alguém com mais convicção nas suas bandeiras, ou nos mastros das suas bandeiras.
Impregnada pelos discursos abolicionistas e crente no direito de liberdade do povo negro, robusto, forte, másculo, a nossa princesa querida resolveu conferir os atributos tão dignos da raça que ora se encontrava escravizada.
Era um domingo, 13 de maio, e a Princesa andava displicentemente pelo pátio somente de camisolas, pensando na votação do projeto de abolição, quando deu de cara (querendo dar o resto) com o negro Sebastião, um exemplar digno de muitos Vivas à abolição.
Logo a Princesa já estava embolada com o Tião ali no pátio de terra, transformando sua camisola alva em algo entre o terracota e o envergonhado bege.
O fato é que não foi um sorriso de orelha a orelha que o povo viu na Princesa quando ela usou sua pena de ouro, especialmente confeccionada para a ocasião, para assinar a famosa Lei Áurea neste mesmo dia. Estava assinando ali a liberdade de Tião, seu próprio libertador.
O povo já comentava como podia estar "A Redentora" tão triste já que o dia era de festa para eles.
O Tião, sabendo-se o responsável pelo estado de espírito da nobre se limitou a dizer para os pares:
_ Coitada está a princesa.
E foi assim que um adjetivo que deveria ser usado para designar a pessoa feliz após ter sofrido o coito virou sinônimo de pessoa que se tem que ter pena.

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